Mozambique: Police recover 12 goats stolen from UEM
Damage in a street of Beira, Mozambique, on March 17, in the aftermath of the passage of the cyclone Idai. Photo: AFP
Written on Monday, March 18, a testimony in the first person by Italian citizen Fabrizio Graglia, director of the Esmabama Association in Sofala, about the destruction left by the passage of Cyclone Idai through Mozambique.
“Dear friends,
[On this Monday, March 18] I managed to make the trip from Beira to Nampula and then to Maputo to be able to access the internet and update you on the latest events that hit the province of Sofala. A devastating cyclone (Idai) massacred Sofala on the evening of Thursday, March 14. Since that day we have been without electricity, telephone communications, fuel, food, drinking water, roads, ATM services, and the banks remain closed. The cyclone left behind a trail of death and destruction such as there is no memory of in the country. Schools, our office, the hospitals that remained standing have become a haven for hundreds of families who have lost everything. The roof of Beira’s central hospital collapsed and five new-borns from the neonatal ward died; 160 more died in those facilities due mainly to the lack of electricity for hospital machines and the partial collapse of the structure. There are no lampposts standing, fallen trees block the streets, no shops or markets are open. We ate only oranges and avocados for three days and rationed drinking water.
The wind was so strong that it ripped out the engines of air conditioners, tossing them onto the surrounding roofs. Reading the latest news online, I now find that the wind reached 230 kilometres an hour that night. No window or door resisted the fury of seawater, sand, rocks, and everything else found on the way. Zinc sheets ripped from the rooftops were like daggers piercing the houses. Our houses became swimming pools and we protected ourselves with mattresses so that we were not hit by objects and shattered glass from the windows. The house I had been renting for the last five years, located on the beachfront at Ponta Gea, fell to the ground like a deck of cards, with only the back of it left. Small animals literally flew about and were left hanging from trees or rotting on the roofs and debris. All this lasted from 8 p.m. to four in the morning. The last hour was the most dangerous, the wind subsided for a few minutes and then struck harder, destroying the last few houses that had survived the previous hours.
The next day I asked two of our sailors to go to Barada’s mission to get some information, but the sea and the wind did not allow navigation. So I asked one of our drivers to take the land route, but after 40 km he had to go back to the city because the road had been swallowed up, in its place a lake with crocodiles and people trapped in the trees.
People who walked for two days to Beira told me that whole villages with houses and people had disappeared. The president of the Republic of Mozambique announced that at the moment the districts of Búzi (Barada and Estaquinha), Chibabava (Mangunde) and Marromeu are completely isolated, and expressed his concern that hundreds of deaths and subsequent illnesses are to be expected since, also from what is observable by the aerial photographs that have begun to circulate, there are dozens of bodies floating in the Búzi and Pungue rivers.
In the city at night, groups of people are roaming about, no one knows whether they cut trees or cut people, as the number of violent crime has increased considerably, with attacks on people and looting of damaged property.
Meanwhile, after four days, I have only partial information about the missions.
Machanga: The mission no longer has roofs and our boarding students sleep under the trees, and we completely lost the pig farm.
Estaquinha: I only have information about the fields. We lost over 100 tons of corn (food for four months in our boarding schools), all agricultural machinery is submerged. An investment of 200 thousand Euros swallowed by water. I have no information about the mission.
Mangunde: part of the school, boarding school and health centre are without roofs. Surrounding communities are completely flooded.
Our mission on the beach – Barada: I still do not have news and unfortunately I fear the worst.
Our new office in Beira is almost destroyed and armed police, security guards and our three dogs are keeping watch day and night.
Some of our staff and students were injured, but so far we have not heard of any deaths among our own.
It continues to rain heavily and it is expected to remain so over the next few days and rivers continue to rise to alert levels. Neighbouring countries that are also being affected by torrential rains will surely open the floodgates of their dams to avoid damaging them, and hence even more floods are expected in the Sofala region.
I am dismayed and shattered by this Dante-esque scene and the panic in the faces of those who now fear for their own lives and those of their dear ones. We urgently need help.”
Fabrizio Graglia is the director of the Esmabama Association in Sofala.
“A situação que se vive na Beira e em Sofala é catastrófica e dantesca”
Testemunho na primeira pessoa do italiano Fabrizio Graglia, diretor da Associação Esmabama em Sofala, sobre a destruição deixada pela passagem do ciclone Idai por Moçambique.
“Caros amigos,
[Nesta segunda-feira, 18 de março] consegui fazer a viagem de Beira para Nampula e depois para Maputo para poder aceder à internet e poder atualizar-vos sobre os últimos acontecimentos que atingiram a província de Sofala. Um ciclone devastador (Idai) massacrou Sofala na noite de quinta-feira, 14 de março. Desde aquele dia ficámos sem energia elétrica, comunicações telefónicas, combustível, comida, água potável, estradas, ATM e os bancos mantêm-se fechados. Este ciclone deixou para trás um rasto de morte e destruição como não há memória no país. As escolas, o nosso escritório, os hospitais que permaneceram em pé tornaram-se o refúgio de centenas de famílias que perderam tudo. O telhado do hospital central da Beira caiu e cinco recém-nascidos da enfermaria de neonatologia morreram, mais 160 pessoas morreram naquelas instalações devido principalmente à falta de energia que mantinha as máquinas hospitalares e à queda parcial da estrutura. Não há postes de luz em pé, as árvores tombadas bloqueiam as ruas, nenhuma loja ou mercado está operacional. Só comemos laranjas e abacates durante três dias e racionalizamos a água potável.
O vento era tão forte que arrancou os motores de ares condicionados atirando-os para os telhados circunvizinhos. Lendo as ultimas notícias online, verifico agora que o vento chegou a 230 quilómetros por hora naquela noite. Nenhuma janela ou porta resistiu à fúria da água do mar, areia, pedras e tudo o que encontrou no caminho. As chapas arrancadas aos telhados eram como punhais que entravam dentro das casas. Nossas casas tornaram-se piscinas e protegemo-nos com colchões para não sermos atingidos por objetos e vidros estilhaçados das janelas. A casa que arrendei nos últimos cinco anos, localizada em frente à praia na Ponta Gea, caiu por terra como um baralho de cartas, restando apenas a parte traseira da mesma. Vários animais de pequeno porte literalmente voaram, ficando pendurados em árvores ou a apodrecer nos telhados e escombros. Tudo isso durou das 20.00 até às quatro da manhã. A última hora foi a mais perigosa, o vento diminuiu por alguns minutos e depois atacou com mais força, destruindo as últimas casas que sobreviveram às horas anteriores.
No dia seguinte, pedi a dois de nossos marinheiros que fossem à missão de Barada para obter algumas informações, mas o mar e o vento não permitiram a navegação. Então eu pedi a um de nossos motoristas para tomar a rota terrestre, mas depois de 40 km ele teve de voltar para a cidade porque a estrada tinha sido engolida e em seu lugar havia um lago com crocodilos e pessoas presas nas árvores.
Pessoas que caminharam durante dois dias até à Beira disseram-me que aldeias inteiras com casas e pessoas desapareceram. O presidente da República de Moçambique anunciou que neste momento os distritos de Búzi (Barada e Estaquinha), Chibabava (Mangunde) e Marromeu estão completamente isolados. E segundo ele expressou, com preocupação, esperam-se centenas de mortes e doenças subsequentes, dado que também pelo que é observável pelas fotografias aéreas que começam a circular, dezenas de corpos flutuam nos rios Búzi e Pungue.
Na cidade à noite, grupos de pessoas andam a vaguear, ninguém sabe se cortam árvores ou cortam pessoas, pois os números de criminalidade violenta aumentaram consideravelmente, tendo-se registado vários ataques a pessoas e assaltos às casas danificadas e abertas.
“Grupos de pessoas andam a vaguear, ninguém sabe se cortam árvores ou cortam pessoas.”
Enquanto isso, após quatro dias, tenho informações apenas parciais acerca das missões.
Machanga: a missão não tem mais telhados e os nossos alunos internos dormem sob as árvores, e perdemos completamente a criação de porcos.
Estaquinha: só tenho informações sobre o campo agrícola. Perdemos mais de cem toneladas de milho (alimento por quatro meses em nossos internatos), todas as máquinas agrícolas estão submersas. Um investimento de 200 mil euros engolidos pela água. Não tenho informações sobre a missão.
Mangunde: parte da escola, o internato e o centro de saúde estão sem teto. As comunidades circunvizinhas estão completamente inundadas.
Nossa missão na praia – Barada: ainda não tenho novidades e infelizmente temo o pior.
Nosso novo escritório da Beira está quase destruído e policiais armados, guardas e os nossos três cães ficam de guarda dia e noite.
Alguns dos nossos funcionários e estudantes foram feridos, mas até agora não tivemos notícias de mortes entre os nossos.
Continua a chover torrencialmente e prevê-se que se mantenha assim nos próximos dias e os rios continuam a aumentar seu nível de alerta. Os países vizinhos que estão também a ser afetados por chuvas torrenciais irão seguramente abrir as comportas das suas barragens para evitar a sua danificação, pelo que se espera ainda mais cheias na região de Sofala.
Estou consternado e destroçado com este cenário dantesco e com o pânico nos rostos de quem agora teme pela vida e dos seus. Precisamos de ajuda urgente.”
Frabrizio Graglia é diretor da da Associação Esmabama em Sofala
Leave a Reply
Be the First to Comment!
You must be logged in to post a comment.
You must be logged in to post a comment.